Eu sempre quis entender: porque não entendo, escrevo. Como jamais entenderei, até o fim da vida tentarei expressar em palavras e entrelinhas esse desejo inalcançável.

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7 de novembro de 2012

A Caixinha

Estava sentado sem fazer nada
Pensando
Só pensando

Então ela sentou ao meu lado
E perguntou

Querido
O que você faz agora

Ele respondeu
Nada querida
Estava só pensando numa história que quero escrever

Então ela mostrou uma caixa pequenina
Dizendo

Olha aqui dentro da caixa
Vê o que tu acha

Ele pegou na caixinha
Manuseou ficou pegando sem falar

Então ela perguntou de novo
O que você achou

Ele respondeu sorrindo
Não tem nada aqui dentro desta caixinha
Acho a caixa bonita
Só isso

Ela pegou na mão dele dizendo

Isto acontece com toda a população
Olha
Mas não vê o invisível
Invisível não quer dizer que não exista
Olha outra vez dentro desta caixa
E mostrou pra ele a caixa já aberta

Ali
Agora ele viu
Muita gente contando mentira
Bem rápido meteu a mão dentro da caixa
E jogou fora toda mentira

Ela diz
Olha de novo

Quando olhou viu
Muita falsidade e maldade
Tudo misturado pra confundir quem olha
Outra vez ele jogou tudo fora

Agora foi ela que pegou na caixinha
Dizendo
Nem tudo está perdido

Então ela retirou de dentro da caixa
E colocou na mão dele
Muita felicidade

Ele perguntou
Onde estava tanta felicidade que eu não vi

Ela respondeu
Bem ao lado do meu amor por você.

Autor:KINNAL

Nunca vou te esquecer

A mulher saiu cedo como fazia todo dia
E foi procurar ele de casa em casa
De lugar em lugar

Até que um dia
Passando pela praia ela o viu

Ele estava em um restaurante
E não estava sozinho
Ao lado dele estava uma senhora
Jovem ainda
Alta
Muito elegante
Sensual
E linda
E ficava mais bonita ainda quando andava
Parecia desfilar sua própria beleza

Desesperada
Em angústia
Ela já não sabia se caminhava
Ou corria ao encontro dele

Quando ela está chegando perto
Toda contente e sorrindo
Ele olhou na direção dela
E ele sorrindo abriu os braços
Num gesto claro de querer abraçar também
Aquele abraço gostoso
Que só ele sabe fazer

Só que o inesperado acontece

Ele abraçou outra mulher
Aquela que estava ao lado dele
Tão linda

Ela ficou atordoada
Ficou ali parada diante dele
Sem conseguir falar
Aquela mulher que ele abraçava
Com tanto carinho
Não era ela

Mesmo assim
Tentou fazer ele notar sua presença ali perto
Tão perto e parecia tão distante
Resolveu chamar ele pelo nome
É gostoso dizer o nome de quem a gente ama
E então ela falou outra vez dizendo

Querido sou eu
A tua mulher
Estou aqui

Ele ignorou por completo a presença dela
Parecia até que não via
E ela continuou ali parada
Pensando
É tão bom olhar alguém que a gente ama

Depois ela foi embora
Sem dizer mais nada
Ela foi embora desanimada e triste
Pois só agora lembrara da realidade de sua vida
Morrera afogada numa praia

Faz tanto tempo que o mar levou seu corpo
E o mar levou também todo aquele amor dele

Ela era agora apenas
Mais uma alma invisível

Ela era agora para ele
Apenas a sua alma gêmea
E estava invisível vivendo

No dia seguinte
Lá estava ele outra vez na praia
E agora estava sozinho

Ela ficou ali olhando pra ele
Calada
Ela pensando

Você está tão perto e tão longe de mim
Tão longe e tão perto

Reparou agora olhando pra ele
No rosto dele escorria uma lágrima
Enquanto chorava com saudade dela

Depois ele sentou na areia branca da praia
E com o dedo escreveu na areia

Querida eu te amo
Aconteça o que acontecer
Nunca vou te esquecer

Ela não aguentou mais conter o pranto
E chorou também em silêncio

Quando ele fechou os olhos
Ainda chorando
Nela pensando
Ela fez aparecer embaixo da frase dele

Eu também querido
Nunca vou me esquecer.

Autor: KINNAL

contos da infância

Certo dia, um rapaz desiludido resolveu seguir o
exemplo dos "contos da infância".


Colocou-se frente ao seu espelho e perguntou:

Querido espelho, olhe para mim e me diga:
Existe alguém mais infeliz do que eu?

Com certeza, respondeu o espelho, existe alguém mais
triste que tu neste momento.
E este alguém sou eu.



O rapaz olhou espantado.
Não esperava que um espelho falasse, e ainda contra ele.


Mas o espelho prosseguiu:

Tu não imaginas a dor que eu sinto ao ver, no meu
reflexo, uma pessoa que deixou seus problemas tomarem
conta de sua vida, que não tem mais vontade de lutar e
principalmente que não consegue ver dentro de si as
suas qualidades suas capacidades, seu talento.

Queria que estivesse no meu lugar pra ver.

Tu és uma pessoa tão inteligente, que fala para todos
que tem um Deus, e tantas vezes falou do amor de Deus,
agora se mostra tão derrotado.
Deus é tão pequeno assim em tua vida para que tu te
sintas tão inferior assim?


É pena que tu não vejas através de mim toda a tua
facilidade em lidar com as pessoas, o quanto é
expressiva a tua voz e tua palavra, quanto teu coração
é forte, e o quanto as pessoas te amam.
Olhe para ti!
Levanta essa cabeça, pois dificuldades todos temos,
assim como todos guardam dentro de si algo especial
para dar, a capacidade de tornar a própria vida
prazerosa.

Quantas são as pessoas que gostariam de ser como tu
és: saudável, inteligente e com toda a vida pela
frente! E, no entanto, muitas delas são felizes e
agradecem a Deus pelas suas vidas!
Use a tua sensibilidade ela é essencial para a vida.
Motive-se: ao acordar pela manhã, pense algo do tipo:
"hoje meu dia será produtivo, alegre e cheio de vida,
pois tenho Deus comigo.".
Faça isso com amor no coração e concentre em teus
objetivos.
De hoje em diante, quero ver outra imagem refletida
em mim.
Uma imagem de alegria interior.
Perdi a esperança...


Deus também abaixa a cabeça e diz:

Perdi um homem...

Autor Desconhecido


2 de novembro de 2012

Pela primeira vez


Ela caminhou descalça pelo asfalto úmido. O vento soprava gélido em sua face, cruel e sincero, como se enfiasse agulhas congeladas em sua face... contudo, ela não ligou. Continuou caminhando decidida, apesar dos olhos estarem vermelhos por causa do choro. O agasalho que cobria seus braços não era suficiente para o vento da manhã que soprava, mas ainda assim, ela não ligava.

Pela primeira vez, sentia como se nenhuma dor conseguisse ser maior que aquela, a sensação que tinha era de que estava anestesiada, e que nada conseguiria derrubá-la. Não agora.

Gritou, gritou alto, e mais uma vez. Tentando tirar a angustia da garganta, só que o máximo que conseguiu foram mais lágrimas, os joelhos fraquejando, e os pés sendo castigados pelas pedras e o asfalto áspero. Ela só queria ir o mais longe possível. Os carros passavam por ela, alguns buzinavam e outros aceleravam, uns até paravam e perguntavam se queria ajuda, mas ela simplesmente ignorava.

Se você perguntasse o que havia causado toda aquela dor e lágrimas... ela não hesitaria em lhe responder: "Tudo". Simplesmente dessa forma.

Pela primeira vez na vida, ela estava se sentindo sozinha. Ela poderia estar no meio de todos que ela conhecia, mas ainda se sentiria sozinha. Mesmo as pessoas contradizendo, falando que sempre estariam ali, ela ainda se sentiria sozinha, talvez se sentiria mais ainda, porque sabia que elas não estariam sempre com ela, nunca estão. Não completamente.

Ela suspirou, tirando as lágrimas dos olhos, bufou e ergueu os olhos. No horizonte que avistava, via o sol nascer. Imenso e irradiando glória, enxotando toda a escuridão da noite. Ela, tão triste e só, sorriu. O sorriso veio da alma, o mais sincero de todos. Sorriu apesar de estar se sentindo péssima, sorriu apesar de estar com frio, sorriu apesar de estar só.

Pela primeira vez, ela sorriu abertamente sem saber que se feriria por estar feliz. Sorriu pela glória do sol, como se enxergasse uma porta logo adiante, que a tirasse daquele labirinto. Ela só queria mudanças, e procurava um pouco de esperança... porque quando tudo lhe faltar, a esperança vai ser a única que vai poder lhe salvar. Ela pensava.
 
Escritora: Larissa Cavalcante

Marcada

Ela entrou, bateu a porta e a trancou. Trancou-a dentro de si. Evitou sair, repudiou sentimentos, evitou visitas. Costurou sorrisos, remendou coração, tricotou a sua dor. (As suas dores.) Deu dois passos à sua frente, sentiu escorrer mais uma lágrima. Dessa vez quente. Percebeu quando alcançou o chão e elevou as mãos aos olhos em uma tentativa frustrada de enxuga-las. O coração acelerado, denunciava a dor palpitante, pulsante em suas veias. Dor viva. Sentiu queimar. O cheiro de álcool a entregava. Passou a noite bebendo, embriagou-se mais uma vez das mesmas doses daquele que um dia foi o motivo do brilho em seus olhos. Agora, obscuros e sem vida. Passou a noite afogando-se nas águas que um dia jurou jamais se arriscar. Viveu perigosamente, de portas abertas, destrancadas, vulneráveis. Olhou bem à sua volta, antes de tentar chegar ao seu quarto. A distância parecia enorme, tudo parecia sair do lugar, mover-se. Tudo, menos ela. Sentiu-se impotente, fraca, indefesa, invadida. Ela continuava andando em círculos, vivendo de migalhas, convivendo à sombra de um passado que distribuiu marcas nela. Marcas em seu corpo, marcas em sua alma, em seu coração. Marcas que se arrastaram, que a acompanharam ao longo dos anos. Ser violentada por aquele que jurou proteção fez seu coração sangrar, dilacerou sua alma. Causou estragos, marcas profundas que ainda estavam por cicatrizar. Deixou lembranças encarnadas em si, materializadas em forma de dor refletida em seu corpo, em seu olhar. Encarou por um instante seu reflexo em um dos espelhos da sala-de-estar. Estava com olheiras. Havia tempo que não dormia. Havia tempo que não se encarava. Havia tempo que não vivia, apenas fingia viver. Fingia sorrir, fingia amar, fingia não doer, não sofrer. Fingia não estar marcada, estando visivelmente marcada. Estando visivelmente ferida. Despiu-se ali mesmo. Peça por peça, sem pressa. Despiu-se de suas roupas e do "fingir". Despiu-se da dor. Se expôs! Chorou! Por um momento enojou-se de si mesma, por se permitir passar por aquilo, por ter se mantido omissa durante tanto tempo, por ainda desejar ardentemente ser amada por quem só a feriu. Enojou-se, gritou, chorou. Confrontou e olhou bem em seus olhos. Se encarou! Olhou bem as marcas espalhadas em seu corpo e as encarou sem nenhum receio desta vez. Estava despida! Marcada, mas despida. Subiu cada degrau sem pressa, durante o percurso até o banheiro o silêncio tomou conta de si. Conversava consigo mesma em um silêncio particular, repleto de palavras não ditas, apenas sentidas. Embora visivelmente em silêncio, dentro de si ela estava tratando suas dores, sarando suas feridas. As palavras iam surgindo em forma de lágrimas que escorriam de seus olhos e confrontavam o chão, marcando o piso de madeira amarronzada. No banheiro, ligou o chuveiro e entendeu que era hora de deixar o silêncio falar. Suas lágrimas se misturavam com a água que escorria do chuveiro. E com ela assim como a espuma, deixou escorrer as dores, as lembranças, as marcas. Deixou escorrer. Deixou escorrer! E pode ouvir nitidamente o silêncio dizer: Ei, você não merece sofrer!
 
Escritor: Reges Medeiros

Segunda Vista

Mais uma sexta feira no bar da faculdade. Risadas altas, música mais sendo mal cantada do que tocada pelo grupo de gente. E ali naquele bar, um grupo de jornalistas, afogando as mágoas por causa de pautas ruins, entrevistados mal educados e estresse nos estágios.

O grupo ria em conjunto. Alguns extrapolando, outros avisando para não extrapolar, e os que bebiam guaraná riam mais que qualquer outro.

Mas era apenas mais uma sexta feira, em que ele me puxara pelo pulso para termos outra conversa mais séria. Danilo era um cara engraçado, extrovertido, bom de papo, bonito... toda vez que falo de suas qualidades me pergunto porque não demos certo.

– Então quer dizer que está namorando? – Ele me perguntou coçando a barba. Mesmo um pouco longe de mim, consegui sentir o hálito de cerveja barata com cigarro. Lembrei do gosto de seus beijos. Sorri pela lembrança, e não pela expressão azeda que ele tinha no rosto, apesar de ser algo muito mais convidativo.

– Quem? – Perguntei achando graça. Larguei o copo de cerveja que eu segurava na mesa e cruzei os braços na sua frente.

– Você, está namorando, não está? Foi o que as línguas dizem por aí...
– Danilo falou, sem sorrir, e olhando fixamente pra mim.

– Olha, aprendi que em jornalismo temos que diferenciar “boato” de “fato”...

– Bom, Tati, estou tentando solucionar isto agora! – Abriu o belo sorriso para mim.

Há quanto tempo não nos víamos? Uma semana, ou apenas duas?

– Não estou namorando. Quem lhe contou isso?

– Não posso contar... minhas... como é que vocês, jornalistas, falam mesmo? – Danilo fazia Sistema de Informação. Ele pensava em códigos, enquanto eu tinha o texto de Bauman completo e revisado na cabeça.

– Suas fontes?

– Isso! Minhas fontes são secretas!

Eu sorri com a ideia de quê ele veio se preocupar a vir falar comigo sobre o boato. Afinal, do quê lhe importava? Terminamos nosso “quase relacionamento” por falta de sintonia, e nos víamos como bons amigos nas últimas semanas.

Danilo fixou seus olhos nos meus outra vez.

– O que houve? – Perguntei descruzando os braços.

– Estou analisando, se é verdade ou não.

– Você sabe que eu sou sincera. – Falei abrindo um sorriso.

O vi relaxando os ombros e deixando o copo de cerveja ao lado do meu.

– É isso que eu mais adoro em você. – Ele disse, sem tirar os olhos dos meus.

Ri, porque era a única coisa que eu conseguiria fazer, já que não tinha uma resposta para aquilo.

– Danilo... – Comecei, pensando em como continuar uma frase que nem ameacei em pensar direito.

– Foi um elogio. Não precisa responder...

– Obrigada.

– Nem agradecer.

Sorri e então desviei o olhar.

Um dos motivos de não queremos estar juntos foi que, além de não ter sintonia, não sentíamos falta um do outro... mas foi nessas duas semanas que a vontade de se ver apareceu. A vontade de ligar e perguntar se tinha chego bem em casa. Rir de suas piadas ruins... ironicamente quando tínhamos decidido por um ponto no que mal havia começado...

– Queria ter uma conversinha séria com você. – Ele me falou, fechando a expressão seriamente.

– Já estamos tendo uma conversinha, Danilo...

– Você me entendeu, Tatiana. Está mais para uma pergunta...

– Então faça. – Cruzei os braços e o olhei.

Ele respirou fundo, crispou os lábios, piscou algumas vezes e então esticou os braços e me envolveu pela cintura, tirando o hiato que tínhamos. Ri, mas continuei de braços cruzados.

– Jornalista, sentiu minha falta como eu senti a tua?

– Você não contou que estava sentindo minha falta.

– Bom, então está sabendo agora. Quero saber sua resposta.

Sorri e me coloquei na ponta dos pés. Com minha boca alcancei a tua, o gosto do cigarro em sua boca pouco me incomodou, pelo contrário, senti saudades.

A ansiedade me borbulhou no estômago como uma novidade... nunca havia ficado nervosa e muito menos animada em beijá-lo.

O que diabos era isso, afinal? Amor a segunda vista?

Não havia problema nenhum em tentar outra vez. Quem sabe o cara da lógica não foi feito para a garota que sonha em mudar o mundo, não?
 
 Escritora:Larissa Cavalcante

O moço desconhecido

A parte mais feliz do meu dia é quando eu posso te ver. De esguelha, um pouco escondida atrás das paredes de azulejo da faculdade, vendo você passar. Mas sem dúvidas, a melhor parte é quando nossos olhares se encontram e fixamos... e parece que o mundo para.

Os seus olhos verdes de encontro ao meu, parece que duram horas. Conversamos pelas pupilas há uma semana. Há uma semana espero te encontrar naquele corredor.

"Ele nem sabe o meu nome... e nem eu sei o dele!" Falei para uma amiga. A menina cheia de cachos loiros riu e me sorriu.

"É a graça disso tudo. Deixa rolar, mulher!"

Larissa Cavalcante

O dia em que te encontrei, sem ser em meus sonhos


Eu pude perceber você ali em meio aquela miríade. Pude perceber tua ansiedade, teu nervosismo no ato de entrelaçar as mãos e olhar para os lados como quem procura algo, alguém. Pude perceber o mesmo brilho que vi em meus sonhos, nos teus olhos e... cheguei a confundi-los com as estrelas. Fiquei ali, meio que te observando me esperar surgir, meio que criando coragem de olhar finalmente nos teus olhos, sem que eu fosse acordado a qualquer momento. Sem que nada nos atrapalhasse! Fiquei ali te admirando e sem acreditar no que estava acontecendo. Você era real! E estava ali bem na minha frente de braços abertos para me receber em teu mundo, em teu coração, em tua vida. Você se destacava! Meus olhos focaram-se em você, me desprendi de tudo ao redor, desfoquei e encontrei os teus olhos. Congelei! Suei frio e ao mesmo tempo senti queimar algo em minhas veias. Senti o amor tomar forma, encarnar-se em mim e em você. Senti o carinho em teus olhos e a felicidade em teu sorrir. Senti o estômago embrulhar ao ver que você vinha em minha direção. Passos apressados. Não corria, mas também não andava. Senti flutuar! Minhas mãos pareciam inúteis e todo o meu ensaio escorreu pelos lábios. A nostalgia se fez presente relembrando os momentos antes vividos em sonho. Meus olhos não comportaram a felicidade e a emoção se tornou matéria. As lágrimas percorreram meu rosto e rolaram até morrerem em meus lábios antes mesmo de alcançarem o chão. As pernas enfraqueceram! E as forças pareciam se esvair. Não sabia ao certo o que me mantinha em pé. Você se aproximou, te via de perto agora. Em fração de segundos meus olhos te percorreram de alto a baixo. Não consegui te dizer nada. Deixei que o silêncio falasse e meus olhos refletissem a minha essência. Eles se perdiam no fundo dos teus sem pressa alguma para se encontrar. Você ali, parado me olhando parecia surreal. A beleza de tua alma transbordava pelas janelas e as portas do teu coração se abriram bem diante de mim. Como quem convida pessoalmente alguém para adentrar em seu mundo. Como quem te aceita de braços abertos, assim: do jeitinho que você é. Como alguém que carrega as tuas bagagens, como quem te pega pela mão e mostra o caminho. E vai contigo! Você me abraçou, eu te abracei. Nós nos abraçamos! Ali não havia dois abraços distintos e sim um abraço só, repleto de sentimentos, histórias ainda não vividas, desejos conservados e vontades habitadas em cada um de nós. Não mais dois, éramos (agora) um só. Éramos mais um destes casais apaixonados dispostos a mergulhar (juntos) na imensidão da vida, tendo como embarcação o nosso coração e como alimento o nosso amor. Sedentos pelo conhecimento, apaixonados pela escrita e pela sinceridade das palavras. Pela transparência da alma! Somos admiradores das entre-linhas, daquilo que as palavras não podem expressar e só o coração pode tocar. Somos daqueles que se calam e deixam o silêncio expressar o sentimento. Daqueles que mergulham e buscam no fundo da alma a pérola mais preciosa da vida: o sentido de amar. Somos começo, meio mas jamais fim. Tenho você habitando em mim e você me tem habitando em ti. Somos moradores do coração um do outro, cúmplices, amigos e amantes. Somos o resgate do nosso Eu, o início do Nós. Somos escritores de uma história, que ainda está sendo escrita, que já tem um começo lindo e se Deus quiser jamais terá um fim.


Reges Medeiros
Olinda/PE - Brasil (Recanto das Letras)

O último por do sol

Karen estava bastante alegre com a viagem que iria fazer para Alvilândia, interior do estado, distante cerca de quatro horas de viagem. Ela não conhecia, ouvira só relatos dos companheiros de escola, alunos como ela que já participaram dessa excursão que era feita todo ano pela direção do estabelecimento de ensino, geralmente no final do ano, mais precisamente no mês de novembro e só participava aqueles que tiravam boas notas, o que desagradava alguns que não eram muito afeitos aos estudos.
Alvilândia era muito conhecida pela sua beleza natural, pelos seus bosques, pela sua arquitetura colonial e principalmente pelo espetáculo maravilhoso do por do sol, o que atraía muitos turistas. Karen estava torcendo para que chegasse logo o dia da excursão, o tão sonhado passeio que a faria se deslumbrar. Esse foi um dos motivos para que ela se aproximasse de Nelsinho, um rapaz solitário, de poucos amigos, detentor de uma mente extraordinária, sempre tirando boas notas na escola e que era admirado por todos os colegas de classe pela sua capacidade, especialmente por Karen, que o citava muito em seu diário. Tinha vontade de namorá-lo, achava ele legal, mas nunca tivera coragem de chegar perto dele para demonstrar o seu desejo. Ele a olhava de modo discreto, mas estava sempre concentrado em suas atividades escolares, o que se tornava um empecilho entre ambos.
Afinal chegou o dia da viagem e o ônibus que levaria os alunos já estava estacionado na frente da escola, devendo partir às sete horas da manhã. Karen foi uma das primeiras a chegar, bem como Nelsinho, que também apresentava um certo nervosismo, apesar de não ser a sua primeira viagem. Aproximou-se de Karen como que adivinhando os seus pensamentos e iniciou um papo, o que despertou o seu interesse. Essa seria uma boa oportunidade de levar a sério as suas intenções, revelando o seu grande desejo, por enquanto oculto, mas que de certa forma deixava transparecer. Sentaram-se juntos no ônibus, uma grande coincidência ou pura obra do destino, o que ajudou muito na conversa.
Chegaram em Alvilândia por volta das onze horas da manhã, bem próximo do horário do almoço, com todos desembarcando e ocupando seus aposentos em um hotel da cidade, já cadastrado para esse evento anual. Os alunos e professores passariam cerca de cinco dias hospedados, com passeios turísticos e outras diversões, num clima agradável e de muita tranquilidade. A tarde e a noite foram para descanso e visitas locais, quando apreciaram o por do sol. Karen ficou maravilhada com o espetáculo, sempre ao lado de Nelsinho, que até então se mostrava um cavalheiro, sempre usando de gentilezas para ela. No dia seguinte todos se divertiram com um city-tour pela cidade, voltando para o almoço no hotel. De tardezinha a turma se preparou para o segundo por do sol, se divertindo na beira da lagoa de águas transparentes. Karen estava sempre ao lado de Nelsinho e notava nele uma certa inquietação, como se quisesse dizer algo e não conseguia. Ela também não tinha coragem de dar um passo além, mas aguardava uma boa oportunidade, esperando que ele tomasse a iniciativa. O por do sol os encantou, cada finalzinho de tarde era como se eles estivessem em um paraíso. Todos percebiam aquele encanto e até torciam para que tudo desse certo.
Aproximou-se o dia do retorno e teriam apenas esse dia para aproveitarem bastante. A animação era geral e de lado uma certa tristeza, pois na manhã seguinte estariam todos retornando para suas residências, deixando apenas a saudade e a certeza de uma nova excursão no ano seguinte.
O sol começava a declinar, ia caindo aos poucos sob as vistas de toda a turma de alunos. Karen e Nelsinho procuraram um ambiente mais acolhedor, onde pudessem apreciar o por do sol de uma maneira mais particular, com mais sensibilidade. Estavam fora das vistas dos demais e se deram as mãos, seus olhares se cruzaram e seus corações bateram forte. Um clima sentimental se criou entre ambos e instintivamente olharam o sol já se cobrindo, o por do sol que tanto apreciaram e que seria o último desse passeio. Karen e Nelsinho esqueceram que o mundo existia e após o astro rei se esconder atrás das montanhas, seus lábios se encontraram e um longo beijo marcou o início de um romance que poderia durar para sempre.
 
Moacir Rodrigues
Recife/PE - Brasil, 63 anos( Recanto das Letras)

Memórias de Novenbro

Novembro

Novembro de 1950
Rogério estava tão bem arrumado, todos que o acompanhavam enquanto experimentava o terno ficavam de olhos brilhantes, ali em volta havia uma constelação. Alto, forte, com um bigode bem desenhado e os olhos profundamente poéticos. Esse é Rogério se casando com Juliana, ele espera por sua amada no altar com uma ansiedade incomum, se casaram no dia 2 de Novembro de 1950 e Rogério tinha apenas 20 anos.

Novembro de 2010

-Crianças, venham! Hora da história!
Os pequeninos com seus seis e sete anos pararam a brincadeira assim que ouviram seu avô os chamando, na frivolidade pueril subiram a pequena escada da varanda e adentraram na casa bem conservada, observavam atentos os movimentos de um homem imponente, vivido e principalmente amável.
-Vô! O que vai contar para gente hoje? – Perguntou o mais novo, tinha perdido um dente de leite e sorria aos ventos mostrando suas pequenas janelinhas.
-Hoje contarei a história de minha vida!
Rogério disse com um tom de pesar, sentiu o efeito do tempo em suas pernas, que a qualquer movimento causavam-lhe dor, mas nunca tanta dor quanto carregava em seu coração.
Ajeitaram-se no tapete da sala de estar, a lareira acesa aquecia o inicio do frio de uma noite possivelmente longa, Rogério pegou seus óculos e um pequeno livro de onde tirava as mais lindas histórias. Seus netos surpreenderam-se.
-O senhor tem sua história contata nesse livro vovô?
-Tenho meu neto, tantas histórias quanto janelinhas você tem...
De forma incerta respondeu e aprumou a voz.
-Era uma vez...
“Um homem completo, extremamente generoso e esbelto, pelo menos essa foi a descrição dada por sua amada. Casaram-se em novembro numa linda capela. Ela tinha os cabelos sedosos e olhos de jabuticaba, já o homem era o sonho de todas as jovens da região, além de bonito era também muito rico e sempre trabalhou muito para manter sua fortuna.
O casamento foi maravilhoso, lírios estavam por todos os lados e no fim, depois do esperado “sim” saíram sob forte chuva de arroz; A festa foi uma das maiores com direito a banda de Jazz.”
- O que é Jazz?
-Jazz é um ritmo de musica que vovô sempre ouve, sabe? Os sons do vinil?
-Sim...
“Durou dias, dois ou três, todos da cidade estavam presentes e por fim, na lua de mel, fizeram o amor que tanto esperaram. O tempo passou, mas nunca brigaram. Como ela dizia, Ele era seu príncipe e ela sua tão amada princesa. Tiveram dois filhos, um casal que encheu de vida a casa simples em que moravam. Ele sempre economizava seu dinheiro, deixaria tudo a eles quando partisse de sua vida.
A politica com o decorrer dos anos teve grandes mudanças, que afetavam a vida de todos do país, Rogério tinha muitos problemas com isso, pois era, afinal de contas, um artista além de um empresário. Compunha musicas, escrevia livros e pintava quadros. Mas ninguém admirava, pela condição delicada em que nos encontrávamos, por vezes sofríamos repressões. Tal que a mando de um general malvado, fui preso! Sim, cadeia, apenas por expressar minha arte. Julia que havia se casado comigo há tanto tempo ficou desesperada, tinha dinheiro para sobreviver, mas não tinha meu amor para acalmar.
Na prisão, conheci uma jovem moça, muito mais jovem que eu que havia sido presa pelos mesmos motivos, sofríamos tanto que um dia, bateram-na até arrancarem-lhe sangue dos ouvidos. Muitos machucados e eu ficava ali ao seu lado num esgoto escuro, digo esgoto pois era o que parecia. Meu coração que sempre foi de uma mulher somente, estava ali dividido e no calor do momento, nos amamos com medo de morrermos antes disso.
Mas ela morreu, assassinaram-na em minha frente enquanto ela deixava para traz um livro de historias numa tentativa de fuga, peguei o livro e guardei debaixo de uma pedra do local. Chorei por dias, noites, semanas e talvez meses. Um dia fui salvo, perdoaram meu crime de criar historias e desenhar verdades. Voltei para casa e revi minha tão amada mulher, mas o amor tinha se modificado de ambas as partes. Com o tempo, dormíamos em quartos separados, mas para nosso alivio tivemos netos, dois netos. Foi um momento maravilhoso que me recordo bem.
Ela conheceu outro homem que a fazia muito feliz, mais que eu. Decidiu então separar-se de mim, tempos modernos esses em que tal coisa é possível. Meus filhos, seus pais, a levaram para casa dele que ficava em outro estado, estavam de carro e eu fiquei chorando minhas magoas enquanto vocês dormiam em meu colo. Assim morreram, num acidente sem comum.
Em tantos anos, tantos novembros, fico lembrando de minha vida e me arrependo de não ter sorrido tanto assim para todos. Acabei sendo levado pelo acaso e não me levando aonde devia. Essa é a minha historia e guardem bem essa lição, sorriam para a vida e amem acima de tudo. FIM!”
Os meninos não entenderam bem a historia, Rogerio disse que não tinha problema e fechou o livro, mais dois novembros se passaram e ele então morreu.
Meninos criados agora por tios e tias e o caderno de historias perdido no tempo.
Mal sabem eles que o caderno está vazio, nunca houve uma palavra. Tudo que contou era verdade, ou a verdade camuflada de conto de fadas. Foi essa saída de tantas dores, dores de amor, de viver e de peso pela idade. Essa a saída da realidade, contar historia.
 
César F
Matozinhos/MG - Brasil, 20 anos( Recanto das Letras)