Eu sempre quis entender: porque não entendo, escrevo. Como jamais entenderei, até o fim da vida tentarei expressar em palavras e entrelinhas esse desejo inalcançável.

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2 de novembro de 2012

Segunda Vista

Mais uma sexta feira no bar da faculdade. Risadas altas, música mais sendo mal cantada do que tocada pelo grupo de gente. E ali naquele bar, um grupo de jornalistas, afogando as mágoas por causa de pautas ruins, entrevistados mal educados e estresse nos estágios.

O grupo ria em conjunto. Alguns extrapolando, outros avisando para não extrapolar, e os que bebiam guaraná riam mais que qualquer outro.

Mas era apenas mais uma sexta feira, em que ele me puxara pelo pulso para termos outra conversa mais séria. Danilo era um cara engraçado, extrovertido, bom de papo, bonito... toda vez que falo de suas qualidades me pergunto porque não demos certo.

– Então quer dizer que está namorando? – Ele me perguntou coçando a barba. Mesmo um pouco longe de mim, consegui sentir o hálito de cerveja barata com cigarro. Lembrei do gosto de seus beijos. Sorri pela lembrança, e não pela expressão azeda que ele tinha no rosto, apesar de ser algo muito mais convidativo.

– Quem? – Perguntei achando graça. Larguei o copo de cerveja que eu segurava na mesa e cruzei os braços na sua frente.

– Você, está namorando, não está? Foi o que as línguas dizem por aí...
– Danilo falou, sem sorrir, e olhando fixamente pra mim.

– Olha, aprendi que em jornalismo temos que diferenciar “boato” de “fato”...

– Bom, Tati, estou tentando solucionar isto agora! – Abriu o belo sorriso para mim.

Há quanto tempo não nos víamos? Uma semana, ou apenas duas?

– Não estou namorando. Quem lhe contou isso?

– Não posso contar... minhas... como é que vocês, jornalistas, falam mesmo? – Danilo fazia Sistema de Informação. Ele pensava em códigos, enquanto eu tinha o texto de Bauman completo e revisado na cabeça.

– Suas fontes?

– Isso! Minhas fontes são secretas!

Eu sorri com a ideia de quê ele veio se preocupar a vir falar comigo sobre o boato. Afinal, do quê lhe importava? Terminamos nosso “quase relacionamento” por falta de sintonia, e nos víamos como bons amigos nas últimas semanas.

Danilo fixou seus olhos nos meus outra vez.

– O que houve? – Perguntei descruzando os braços.

– Estou analisando, se é verdade ou não.

– Você sabe que eu sou sincera. – Falei abrindo um sorriso.

O vi relaxando os ombros e deixando o copo de cerveja ao lado do meu.

– É isso que eu mais adoro em você. – Ele disse, sem tirar os olhos dos meus.

Ri, porque era a única coisa que eu conseguiria fazer, já que não tinha uma resposta para aquilo.

– Danilo... – Comecei, pensando em como continuar uma frase que nem ameacei em pensar direito.

– Foi um elogio. Não precisa responder...

– Obrigada.

– Nem agradecer.

Sorri e então desviei o olhar.

Um dos motivos de não queremos estar juntos foi que, além de não ter sintonia, não sentíamos falta um do outro... mas foi nessas duas semanas que a vontade de se ver apareceu. A vontade de ligar e perguntar se tinha chego bem em casa. Rir de suas piadas ruins... ironicamente quando tínhamos decidido por um ponto no que mal havia começado...

– Queria ter uma conversinha séria com você. – Ele me falou, fechando a expressão seriamente.

– Já estamos tendo uma conversinha, Danilo...

– Você me entendeu, Tatiana. Está mais para uma pergunta...

– Então faça. – Cruzei os braços e o olhei.

Ele respirou fundo, crispou os lábios, piscou algumas vezes e então esticou os braços e me envolveu pela cintura, tirando o hiato que tínhamos. Ri, mas continuei de braços cruzados.

– Jornalista, sentiu minha falta como eu senti a tua?

– Você não contou que estava sentindo minha falta.

– Bom, então está sabendo agora. Quero saber sua resposta.

Sorri e me coloquei na ponta dos pés. Com minha boca alcancei a tua, o gosto do cigarro em sua boca pouco me incomodou, pelo contrário, senti saudades.

A ansiedade me borbulhou no estômago como uma novidade... nunca havia ficado nervosa e muito menos animada em beijá-lo.

O que diabos era isso, afinal? Amor a segunda vista?

Não havia problema nenhum em tentar outra vez. Quem sabe o cara da lógica não foi feito para a garota que sonha em mudar o mundo, não?
 
 Escritora:Larissa Cavalcante

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