Eu sempre quis entender: porque não entendo, escrevo. Como jamais entenderei, até o fim da vida tentarei expressar em palavras e entrelinhas esse desejo inalcançável.

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6 de novembro de 2012

O que eu queria contar pra você

“E pintava tantas vontades naquela tela,
com tanta pressa, que os sentimentos se borravam todos
e ficava só aquela mancha vermelha de coisa feita para arder.” [Jaya Magalhães]
 
Queria te contar alguma coisa bonita sobre mim. Mas abandonei a dança e o teatro há anos e não sei mais se algo é bonito na minha vida, além disso. Fiquei com vontade de abrir um livro meu no teu colo e ler em voz alta pra você rir baixinho da minha confusão com as palavras. E que você elogiasse a capa, a contracapa, e a minha ousadia.
Queria te contar dos sonhos que realizei. Mas falta pouco pra faltar quase nada. E eu não realizei nenhum deles, fui apenas me desfazendo como quem doa uma roupa velha. Deixei meus sonhos envelhecerem como tecidos. Desbotados, rasgados e imundos, depois me desfiz. Mas eu queria poder contar pra você que eu realizei alguma coisa que fosse minha.
Queria te contar alguma coisa que te fizesse rir e me achar interessante e engraçada. Mas eu não vejo graça em mais nada em mim, a não ser no jeito estranho que tenho o costume de me vestir. Meu desejo é que você me achasse a mulher mais incrível da rua, e repetisse isso ao pé do meu ouvido, levantando meu vestido azul.
Queria te contar dessa máquina que carrego no peito e que eu já sei dominar. Queria que assim você ficasse mais um pouco, me colocasse em teu colo e me beijasse profundamente. Queria te mostrar que eu posso ficar do teu lado sem falar de amor. Que eu posso fincar no teu peito sem chorar depois.
Queria te olhar de longe, mesmo com o meu peito colado no teu corpo. Não mergulhar na tua retina, não me afogar. Encontrar o ponto de equilíbrio que busco ha anos pra não perder a minha noção de vista quando você coloca sua mão na minha cintura. Quando você coloca a sua língua em minha boca e causa um estrago danado no meu coração.
Queria te contar alguma coisa bonita sobre mim. Alguma coisa calma, lenta e leve. Alguma coisa nova e independente. Alguma coisa que te desse vontade de ouvir, e ouvir, e ouvir sem querer fechar os olhos e se desligar. Mas daí, teria que contar de outra, que não eu. E mentir eu não quero.
Deixa pra depois
 
 

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