No dia em que nos conhecemos na casa de uma amiga na praia ela nos apresentou,
Fulana, Fulano, e ele não disse nada, nem "Como vai", nem "Muito prazer", nem
nada, não estendeu a mão e virou de costas para mim, puxou uma cadeira e sentou
de costas para mim, todo mundo reparou, aquele silêncio, minha amiga ficou
perplexa com a falta de educação, ela me tirou dali de trás dele, uma situação
constrangedora, ela murmurou: "Ele é um sujeito temperamental". Não entendo seu
comportamento. Nunca vi isso antes. Não consigo compreender, depois veio uma
empregada da casa e ele levantou da cadeira e beijou a mão da empregada como se
ela fosse uma condessa, e pensei: "Será que ele está querendo dizer que respeita
os pobres e despreza os ricos?" Se for assim, está perdoado, não pude tirá-lo da
cabeça; ele me hostilizou a tarde toda, e quanto mais ele me hostilizava mais eu
o odiava e quanto mais o odiava mais pensava nele, era um mistério seu desprezo
por mim, não fazia sentido, pensei nele até o fim da tarde; e fomos embora para
nosso hotel; no carro ele conversou com o chofer e não disse uma só palavra para
mim, nem se virou para trás uma só vez, apenas disse um "Adeus" seco quando
saltei do carro, como se eu o incomodasse, e ele se despediu gentilmente dos
outros convidados sorrindo e desapareceu, entrei disfarçandoas

Por Ana Miranda
Texto extraído do livro "21 histórias de amor", Ed. Francisco Alves - Rio de
Janeiro, 2002, pág. 135.