No dia em que nos conhecemos na casa de uma amiga na praia ela nos apresentou,
Fulana, Fulano, e ele não disse nada, nem "Como vai", nem "Muito prazer", nem
nada, não estendeu a mão e virou de costas para mim, puxou uma cadeira e sentou
de costas para mim, todo mundo reparou, aquele silêncio, minha amiga ficou
perplexa com a falta de educação, ela me tirou dali de trás dele, uma situação
constrangedora, ela murmurou: "Ele é um sujeito temperamental". Não entendo seu
comportamento. Nunca vi isso antes. Não consigo compreender, depois veio uma
empregada da casa e ele levantou da cadeira e beijou a mão da empregada como se
ela fosse uma condessa, e pensei: "Será que ele está querendo dizer que respeita
os pobres e despreza os ricos?" Se for assim, está perdoado, não pude tirá-lo da
cabeça; ele me hostilizou a tarde toda, e quanto mais ele me hostilizava mais eu
o odiava e quanto mais o odiava mais pensava nele, era um mistério seu desprezo
por mim, não fazia sentido, pensei nele até o fim da tarde; e fomos embora para
nosso hotel; no carro ele conversou com o chofer e não disse uma só palavra para
mim, nem se virou para trás uma só vez, apenas disse um "Adeus" seco quando
saltei do carro, como se eu o incomodasse, e ele se despediu gentilmente dos
outros convidados sorrindo e desapareceu, entrei disfarçandoas
as lágrimas e não pude tirá-lo da minha cabeça, de noite ouvi uma batida na
porta do meu quarto no hotel e abri a porta pensando que era a arrumadeira ou o
garçom, mas era ele, estava vestido de terno com uma flor na lapela, perfumado,
os cabelos molhados, dessa vez ele estendeu a mão e me olhou nos olhos sem
nenhum desprezo, o que me deixou ainda mais intrigada, e ele me convidou para
jantarmos juntos, os outros haviam saído, éramos só nós dois no hotel, fazia
sentido que jantássemos juntos, fomos caminhando até a praia, ele estava gentil,
reverente, quase tímido, fazia perguntas e falava apenas de mim, sentamos no
restaurante à beira da praia, ele pediu champanhe, fez um brinde. Ao nosso
encontro, levantei sem esperar a comida e voltei sozinha para o hotel,
caminhando pela praia, mas não conseguia tirá-lo da minha
cabeça.
Por Ana Miranda
Texto extraído do livro "21 histórias de amor", Ed. Francisco Alves - Rio de
Janeiro, 2002, pág. 135.